24 de jul. de 2017

A lágrima do morto


A Paulo Fialho, em seu velório




a morte esse cavalo
pégaso solto no ar
a noite esse halo
o corpo o não lugar

no foco um só plongée
cavalo alado torto
enquadra a cena e vê
em decúbito o corpo

corpo o corpo esquálido
por mais que a vida chame
face amarelo pálido
branco branco origami

e como se esculpida
a lágrima do morto
surge súbito e tímida
vida a dobrar em dobro

lágrima esse cristal
vida que vem da morte
e só dela só se alça
solta-se em malasorte

da vida para a morte
da morte para a vida
a lágrima esculpida
vida que estanca a morte

e não escorre a lágrima
vã pulsão que se fixa
lá para sempre lá
vida e morte vívida

não é de malasorte
a lágrima da morte
antes sopro de vida
que jorra esquecida

vida a correr da morte
esse animal cevado
vida esse cavalo
a dobra o dobro: corte

Ronaldo Werneck
maio/julho de 17


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